Toxyn Por Timor:
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transcrito por secretos
IN: Exame Informática Agosto/97
BY: Pedro Fonseca
Entraram ilegalmente e alteraram conteúdos de páginas Web da Indonésia, em
Fevereiro e Abril. Agora, é tempo de balanço para a "campanha por Timor".
Os Toxyn são um grupo de jovens, assumem-se como hackers e adoram os sistemas
operativos. Não dão a cara e só quiseram falar por correio electrónico,
presume-se que a partir da sua sede, em http://toxyn.pt.eu.org. Mas para
aceder às páginas indonésias por si "hackadas" (modificadas ilegalmente)
terá de se deslocar a http://www.2600.com/east_timor/. Onde verá que os seus
passos já foram seguidos por um outro grupo de hackers, os autodenominados
UrBaN Ka0s.
EXAME INFORMÁTICA: Entraram em "sites" indonésios em Fevereiro e em Abril.
Neste momento, qual é o balanço que fazem dessas iniciativas?
TOXYN: Excedeu todas as expectativas que ambicionávamos. Conseguimos gerar
bastante publicidade em torno dos hacks que fizemos e, sobretudo, falou-se
muito de Timor. É claro que houve polémicas sobre o que se passou; por um lado,
acusam-nos de termos apenas "hackado" "sites" indonésios para ganhar
publicidade, mas, por outro lado, grande parte das pessoas que nos apoiaram
sabem que o que fizemos foi apenas por Timor e não por ambições pessoais ou
do grupo. É arriscado fazer este tipo de coisas e nós, como grupo, não
precisamos desta publicidade toda para nos afirmarmos.
E: Qual a razão que os levou a eleger a ocupação de Timor como causa para estas
acções?
T: Principalmente por acharmos que, como portugueses que somos, temos o dever
moral de ajudar uma ex-colónia portuguesa oprimida por uma cultura diferente e
imposta por armas, onde não há liberdade religiosa, nem sequer cultural. Além
disso, Timor é uma região invadida por uma ditadura militar, onde se praticam
assassinos e extermínios de um povo que aprendeu a nossa língua. Para nós,
Portugal tem graves culpas na situação de Timor. Temos de fazer o que estiver
ao nosso alcance para que a causa de Timor esteja sempre em primeiro plano.
No nosso caso, o que sabemos melhor é "hackar" "sites" governamentais
indonésios para que se gere polémica e publicidade acerca da causa de Timor.
E: Os vossos servidores tiveram alguma tentativa de acesso fora do normal ou
vocês foram abordados por alguém da parte indonésia ou portuguesa
(diplomacia ou serviços secretos), após esses actos?
T: Sim, o nosso servidor Web já foi bastantes vezes atacado e diariamente
observamos cerca de 5/6 ataques ou mais de domínios e máquinas indonésias,
bem como de países asiáticos. O nosso "mail" já foi presenteado com várias
"mail-bombs" e inscrições em cerca de 43 "mailing lists" concorridas :)
Nada de concreto que nos faça parar. Até hoje, ninguem conseguiu "entrar"
no nosso servidor. Não é impossível, mas é bastante difícil. Era um bom
desafio. Quanto aos serviços secretos, até agora, não tivemos visitas nem
da Indonésia nem de Portugal. Acho pouco prov´qavel isso acontecer.
E: Sentem-se vigiados?
T: Não, de maneira nenhuma. Mas nestas coisas, nunca se sabe, pode ser que
eles tenham uma base de dados de todos os membros do grupo. Os serviços secretos
portugueses devem é ter orgulho em nós. Em caso de conflito com outros países,
eles têm dos melhores hackers do mundo para a guerrilha electrónica. isso tudo
trata-se apenas de um jogo.
E: Acreditam que este tipo de iniciativas tem alguma probabilidade de ser
discutidas entre os ministros dos Negócios Estrangeiros dos dois paises ou
consideram que não tem um grande impacte político?
T: Não cremos que tenha impacte político e precisamente agora que o [semanário]
Independente anunciou um possível acordo secreto entre Portugal e a Indonésia
para que Timor possa ser uma região autónoma na religião e língua, decidimos
esperar para ver. Pode ser que a noticia se confirme. É claro que não
acreditamos que a Indonésia acabe com as suas violações dos direitos humanos
de um momento para o outro.
E: Têm conhecimento de retaliações vindas da Indonésia feitas a servidores em
Portugal?
T: Alguns hackers indonésios já nos ameaçaram com isso, mas até agora, não
vimos nada de concreto.
E: Nos "newsgroups" onde se debatem estas questões houve um aumento de
mensagens violentas para Portugal ou para a Indonésia? Notaram alguma diferença
entre antes e o depois das vossas acções?
T: Sim, em alguns "newsgroups" o teor das conversas entre portugueses e
indonésios era um bocadito quente, mas não passou de algumas mensagens. Nada
de muito alvoroço.
E: Johan Seiger, do Center for Democracy and Technology, em entrevista à C|net
(28.4.97), afirma que a entrada ilegal em "sites" Web - como neste caso - cria
mais problemas do que os que resolve, por dar uma má imagem da Internet.
Concordam?
T: Não, de maneira nenhuma; só porque se "hackou" um "site" cria-se má imagem
de toda a Internet? Este foi um hack a favor dos direitos humanos de um povo
oprimido. Será má imagem? Este hack não apagou nada de importante, apenas
alterou o conteúdo de um "site", não destrui por completo. Será má imagem?
Nós não fazemos terrorismo electrónico. Má imagem devem ter os "sys admins"
[administradores de sistema] das máquinas indonésias por onde entramos. A
incompetência gera má imagem.
E: A vossa "actividade" centra-se apenas no combate pela libertação de Timor
ou não?
T: Não, claro que não. Nós éramos um grupo com bastantes meses antes de termos
feito a campanha. Um dos nossos projectos para este ano era a Campanha por
Timor. Temos muitos mais projectos em termos de segurança como grupo.
E: Têm previsto algumas iniciativas próximas?
T: De momento, não temos mais nenhuma iniciativa por Timor, até porque os
"sites" mais desejados já "hackamos" (ministério dos Negócios Estrangeiros
indonésio e a "homepage" da Rede Militar Indonésia). Isto não quer dizer
que não façamos mais um o dois hacks. Nunca se sabe :)
Quanto a outras iniciativas, estamos todos ocupados e, em breve, iremos
remodelar por completo o nosso "site".
E: Na medida do possível, quem são os Toxyn (o seu aparecimento, motivações,
escolha do logotipo, alvos)?
T: Bem, como grupo existimos há cerca de um ano. É claro que a maior parte
de nós já anda nisto há muito mais tempo. Somos todos jovens dos 16 aos
26 anos. No princípio éramos um grupo totalmente português, agora somos
um grupo maioritariamente português. Temos membros europeus e alguns
americanos. No princípio, queríamos que se reunissem o melhor em .pt
[Portugal] em segurança e hack, mas, com o evoluir das coisas, acabámos
por aceitar membros de fora.
Os nossos objectivos não são o puro "hack" de "sites", dado que há coisas
muito mais giras para nos entretermos. A única coisa que posso referir
como ponto em comum entre nós é o interesse puro por questões de segurança em
tudo o que é máquina e sistema operativo. Quando um micro-ondas tiver sistema
operativo a sério, estamos lá para tentar "hackar" aquilo.
O logotipo surgiu de um ideia do m0xx [um dos elementos do grupo], bem como
o nome "Toxyn" que não tem nenhuma tradução directa. É apenas um nome "cool"
e fácil de dizer.
Alvos? Não temos ninguém. Gostamos é de gozar com aqueles senhores
administradores e engenheiros que dizem ter as suas máquinas bem protegidas.
Nunca digam "desta água não beberei".
E: Definem-se como hackers ou como crackers? Porque?
T: Bem, de uma vez por todas, já se deve saber que estamos mais próximos dos
hackers do que dos crackers.
Crackers são todos aqueles que copiam CD do win95 para venderem na feira da
Ladra e ganhar dinheiro com isso. Para nós, são criminoso como outros que
roubam relógios e vão vendê-los como novos a alguém. Os hackers são aqueles
que gostam de explorar sistemas e testar a sua segurança. Claro que para isso,
às vezes é preciso entrar [nos sistemas]. Os hackers são os que querem
explorar e apreender coisas que bastantes vezes são pouco facultadas. Mas
para quê dizer isto? Já todos devem saber estas diferenças.